"O cravo brigou com a rosa
Debaixo de uma latada
O cravo saiu ferido
E a rosa despedaçada"
(Cantiga de roda)
A canção de roda serve como metáfora para ilustrar a situação real em que o masculino (cravo) e o feminino (rosa) se ferem no dia a dia, se maltratam, se despedaçam, ambos terminando feridos, tantas vezes de morte.
Existe um ser ferido na necessidade de reafirmar e provar, em altos brados, que é macho e não homem. Por outro lado, está lá a rosa, desvalorizada em relação ao mundo masculino.
Os modos de educar e socializar meninos e meninas pouco mudaram em relação aos séculos passados. Consideradas inferiores e descartáveis, as mulheres ainda não alcançaram o status de cidadãs, na plenitude dos direitos humanos. Percebe-se isso na divisão sexual do trabalho, onde os salários são mais vantajosos para os homens. Percebe-se ainda na divisão do trabalho doméstico, onde este se acumula, para o sexo feminino, junto ao trabalho remunerado fora do lar.
A discriminação contra a mulher evidencia-se mais tragicamente na situação de dependência afetiva, psicológica e financeira, aliadas à baixa auto-estima, que a torna vulnerável ao fenômeno cada vez mais crescente da violência doméstica.
A Lei Maria da Penha foi um advento importante para coibir a agressão contra as mulheres. Mas ainda não conseguiu mudar a mentalidade do homem e da mulher quando educam seus filhos e filhas. Elas não são educadas para serem protagonistas da própria história. Ao contrário, são educadas para a subalternidade e inferioridade. Por isso, grande parte delas não desenvolvem a capacidade de se auto-governarem.
A autonomia exige consciência, capacidade de escolha, liberdade de pensamento e de ação. Mais que isso, exige uma série de atitudes de afirmação de si na relação com o mundo e com os outros.
A discriminação inferioriza as mulheres de diferentes classes sociais e níveis de escolaridade, pois não se trata de um fenômeno de classe, mas cultural. É uma condição que se esteia em valores e crenças enraizados, que antagonizam homens e mulheres como se fossem indivíduos de mundos diferentes.
A autonomia das mulheres no mundo atual é condição indispensável para a eliminação do machismo e da violência sexista.
Nilze Costa e Silva