Sobre o livro
“Fortaleza Encantada”, pode-se dizer que ele está entranhado da paixão de uma
potiguar, aqui chegada no primeiro ano de vida, cheia de amor por essa cidade,
em que mora, até hoje.
Suas páginas
estão repletas de suas passagens, pelos logradouros em que residiu, desde a
meninice até os 13 anos, na Rua Dragão do Mar, quando se banhava nas águas
cálidas da Praia de Iracema, em frente ao histórico bar Estoril, que mais tarde
frequentaria nas noites de boemia e onde também coordenaria o projeto Poemas
Violados.
Levada por seus
pais, da Praia de Iracema para o Parque Araxá, em 1963, ainda olhou longe o mar,
antevendo que um dia adotaria uma outra praia, a da Lagoinha, lindo refúgio,
para o qual se dirige nos feriadões, a fim de ler, meditar, rezar, escrever,
tomar sol e também umas cervejinhas.
Em 13 de abril de
2007, presenciei o lançamento da primeira edição deste livro, e, no final de
semana subsequente, de uma só penada, fiz a sua prazerosa leitura, sob o impulso
das suas crônicas, bem cuidadas, e escritas com desvelo filial, mas também
movido pela própria temática, por ser eu um fortalezense de berço, que tanto
aprecia a sua cidade, e que, igualmente, tanto sofre com os maus tratos a ela
impingidos, por uma desídia administrativa, sem paralelo, que se abateu sobre a
nossa urbe.
As páginas de
“Fortaleza Encantada” guardam uma preciosidade literária só encontrada entre
quem cultiva o hábito de rememorar, para escrever. É assim que Nilze se mostra
como uma “memorialista”, das boas, para falar da cidade que a viu crescer, no
sentido mais amplo da palavra.
Não por acaso ela
descerra o véu que cobre os lugares por onde andou e põe a nu a sua indignação
diante do pouco caso do poder público, para com o patrimônio histórico,
artístico e cultural dessa Fortaleza de hoje, desencantada com a administração
municipal, que sequer “conserta os buracos das ruas e avenidas”, por onde
caminham as pessoas e transitam os carros, fazendo a festa das oficinas
mecânicas para reparo de veículos avariados.
Se isso fosse
pouco, o fato de os monumentos erguidos na cidade, “pichados”, sem contemplação,
serve de “leit motiv”, para Nilze, como uma autêntica guerreira que é, dona de
uma senhora visão crítica, botar a “boca no trombone”, melhor dizendo, falar e
escrever, para todo mundo escutar e ler, que cidadania é mais do que possuir
documentos, é saber respeitar os bens da comunidade. Isso Nilze faz, com a alma
de artista, poeta, escritora e, sobretudo, defensora dos direitos do homem e da
coletividade em que ela se insere. E o que é principal: “sem perder a ternura,
jamais!”.
Em 13 de abril de
2011, quatro anos após o lançamento seminal da obra, vi-me guindado à condição
de seu apresentador, sentindo-me feliz, primeiramente, por ter a mesma ganho o
direito de reedição, fruto do recebimento do Prêmio Otacílio de Azevedo,
patrocinado pela Secretaria da Cultura do Estado do Ceará, o que fartamente
concorrerá para disseminar o encanto saudoso de uma bela cidade que teima em
subsistir; em segundo lugar, pela possibilidade de que exemplares do livro
cheguem às mãos de alguns gestores públicos, e, caso lidos, possam despertar em
ferinas mentes um tardio remorso por vilipendiar, com suas intervenções
descabidas e omissão de ações, a tão decantada “Loura Desposada do
Sol”.
Marcelo Gurgel
Carlos da
Silva