Monday, November 01, 2010

Nós chegamos lá



Quando em 1791 Olympe de Gouges, revolucionária francesa, lançou o manifesto “Declaração dos Direitos da Mulher”, denunciando a Declaração dos Direitos do Homem (restritos ao sexo masculino), pagou caro por essa ousadia. Foi condenada sob o veredito de querer “exercer funções masculinas e esquecer as virtudes próprias do seu sexo”. Morreu guilhotinada. Era uma defensora da democracia e dos direitos das mulheres.

Mais de dois séculos se passaram. Entre tantas mulheres heroínas e lutadoras que tombaram insubmissas ao poder machista, surge uma nova Olympe de Gouges, que resistiu à decapitação moral que tentou arrastar seu nome ao lamaçal das injúrias. Quantas vezes ameaçada, chamada de assassina, matadora de criancinhas, “dilmão”, mentirosa, terrorista e impostora, Dilma ergueu a cabeça e enfrentou os inimigos com a audácia de uma guerreira! Quantas vezes cansada e com olheiras, ela insistia: estou preparada para governar o Brasil.

Tentaram destruir a imagem de Dilma de forma machista e preconceituosa, não considerando sua trajetória de luta em defesa da democracia nos períodos mais árduos da ditadura militar que assolou o país na década de 60 e começo de 70. Na época, ainda jovem, foi torturada por longo tempo, mantendo, no entanto, suas convicções de liberdade. Candidata a Presidente da República em 2010, teve entre seus perseguidores alguns dos maiores admiradores do golpe militar de 64, que ceifou parte das liberdades individuais do povo brasileiro. Seus opositores usaram até o nome de Deus para armar um clima de guerra suja, durante todo o período eleitoral. E ainda se diziam do bem. Mas essa mulher, chamada Dilma Rousseff, que esteve à beira da decapitação moral, não se deixou abater, tendo ao seu lado aquele que também venceu o medo e o preconceito.

Esse é mais um momento histórico de nossa Pátria. Em 2004 um operário é eleito Presidente da República. Em 2010 o Brasil tem o orgulho de poder ver, na força da mulher, a continuidade da transformação social que se instalou no País.

Sinto-me feliz, como mulher e feminista por ter sido protagonista desse tempo, além de coadjuvante de um processo que entrará para os anais da história do Brasil. Orgulho-me de poder assistir, na coragem da nossa primeira presidenta eleita, a continuidade de mudança para o meu país.