Wednesday, August 25, 2010

Ary Sherlock, eterno ídolo


Se ele não fosse ator o que seria? Não dá para imaginar. As páginas do Vida & Arte (O Povo 25/08) me conduziram rapidamente ao passado. Rua Dragão do Mar e a casa misteriosa da D. Santa Porto, enorme, que terminava na R. José Avelino. Um dia ou dois na semana a meninada aguardava os artistas que viriam para o ensaio teatral. Era o pessoal da TV Ceará, Canal 2. Começo da década de 60. Na rua, só uma televisão. Era lá onde os vizinhos se acotovelavam para ver as novelas muitas vezes adaptadas de grandes obras da Literatura, como Oliver Twist (Charles Dickens).
Quando os atores chegavam a garotada, pré-adolescente, se acotovelava. Eu roía as unhas de tanta ansiedade. À frente, meu grande ídolo: Ary Sherlock. Ele chegava barulhento e sorridente, nós batíamos palmas e ele acenava. Junto, Emiliano Queiroz, Cleide Holanda, Karla Peixoto. Mas eu só via o Ary, bonito, longa e negra cabeleira, olhos azuis, gestos amáveis. Eu não tinha coragem de me aproximar, ficava só admirando, de longe, aquele maravilhoso ator de quem eu assistia todas as novelas.

Vinte anos depois, encontrei-o num evento, cara a cara, olho no olho. Avancei e lhe falei da minha paixão. Ele lembrou da rua, dos ensaios e ficou perplexo quando eu cantei a música da órfã, interpretada por Cleide Holanda: “Quando o tempo passa/deixa a fumaça/da recordação/quando o amor termina/deixa uma mágoa no meu coração”. Cantei a música inteira. Eu estava feliz por finalmente encontrar o meu ídolo.
Repeti a pergunta de todos: por que não fora embora? Estaria brilhando nas redes nacionais de TV. Sugeri que escrevesse uma autobiografia, contando sua trajetória artística. Ousada, ainda pedi que fizesse a apresentação de um dos meus livros, o que fez com muita gentileza. Ficamos amigos até hoje, quando soube que este menino talentoso, que não sabe fazer outra coisa senão teatro, completou 80 anos.
Parabéns meu grande ator, morador eterno das minhas recordações de infância e juventude.