No jardim, Camille brinca de esculpir estátuas de argila.
Em suas mãos a arte toma a forma delicada de um pássaro que parte...
Camille cresce entre estranhas e selvagens criaturas.
Entre elas, a escultura das mouras:
três irmãs que fiavam o destino dos deuses e da humanidade.
Ora fadas, ora bruxas - não tinham idade
como Camille Claudel
Tão difícil ser artista e ser mulher
e mesmo assim superar o mestre ...
Escândalo amar o mestre!
Escândalo ser artista.
Camille se agarra aos próprios dedos
pra não ter a alma desmoronada por um ídolo de barro.
Formas fálicas a perseguem
Mascaradas, moldadas em seu passado escandaloso e feiticeiro
Foge da própria escultura voando do alto de uma torre...
Queria tanto escapar das estátuas de Rodin
Elas batem à sua porta
para que lhes dê a delicadeza de suas formas eternas...
No delírio, Camille corre, insana, com sua vassoura vermelha
a caçar anjos e moldar suas esculturas
A sociedade de Paris
lança-a na fogueira dos interditos, alucinados, malditos
- Camille Claudel, a artista louca, amante de Rodin...
Consciente da própria lucidez
Camille confunde o seu lamento
Com o ranger da cadeira de balanço:
“sou como a Pele de Asno ou ou Cinderela
condenada a cuidar da lareira
sem esperança de ver chegar a fada
ou o Príncipe encantado
que deve mudar minha roupa de pele e cinzas
em vestidos cor do tempo”.
Nilze Costa e Silva